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Monja Coen divide sabedorias budistas e experiências de vida no primeiro “Pano pra Manga”

Confira no post os principais temas debatidos entre na última sexta-feira (20) na estreia da série de conversas da Trupe da Saúde.
Monja Coen divide sabedorias budistas e experiências de vida no primeiro “Pano pra Manga”

Na noite da última sexta-feira (20), a Trupe da Saúde se reuniu com convidados especiais para dar início ao “Pano pra Manga”, uma série online de conversas, que se propõe a debater questões desafiadoras emergidas do nosso cotidiano, principalmente agora, durante a pandemia. Parte dessas indagações, inclusive, trazidas da experiência do grupo com a atuação na palhaçaria. 

Para este primeiro encontro recebemos a Monja Coen, que compartilhou a sua visão de mundo, inspirada na sua vivência e relação com o zen-budismo. A conversa, mediada por Carlos Henrique (Hique Veiga), diretor artístico da Trupe, teve como base o tema “a dimensão do riso e da alegria em tempos de pandemia”, assunto explorado em suas mais diferentes facetas de acordo com as perguntas trazidas pelos convidados: Mauro Zanatta, Yara Rossatto, Diogo Bonito, Bia Flora, Gladis das Santas e o psicólogo Volnei Pinheiro. 

A própria abordagem do riso como tema de abertura do projeto se deu, segundo Hique, por conta de um questionamento que tocou à fundo os integrantes da Trupe da Saúde. Devemos nos permitir rir e fazer rir neste momento tão delicado em que estamos vivendo? Separamos alguns trechos da nossa conversa, com mensagens trazidas pela Monja Coen, para mostrar que, sim, é preciso trazer o riso à vida como parte fundamental da nossa existência. 

Tragédia e alegria

As máscaras que representam o teatro – a tragédia e a alegria – por si só já nos indicam a ironia dos atos que acontecem na nossa própria vida, todos permeados desta dualidade. Segundo a Monja, todos nós temos dores e pesares, ainda mais em meio a esta pandemia, que nos atravessa e nos machuca. Contudo, termos o riso presente é, sem dúvida, importante para trazer alívio e leveza nesta travessia. Nós podemos e devemos apreciar ambos, os dois são necessários na nossa existência. Temos que olhar com profundidade para nós mesmos e reconhecer as nossas diferentes faces, os nossos múltiplos acessos, a luz e a sombra que nos habitam. Não brigar com elas, não preferir uma pela outra, mas saber que ambas são necessárias para a nossa sobrevivência.

Só no Brasil, os últimos números mostram que o Coronavírus já provocou mais de 570 mil mortes. E é claro que o luto daqueles que sofreram essas perdas é importante, assim como nós também precisamos nos solidarizar com todas estas pessoas. Mas ao mesmo tempo, não podemos ficar só no pranto. É preciso continuar. É preciso rir, se permitir aos momentos de alegria e viver. Viver com plenitude, mesmo que sejam breves instantes da existência. 

Olho no olho

Mesmo antes da pandemia, sempre vivemos momentos de fragilidade diante das intempéries da vida. O que muda agora, é que estarmos separados no mundo físico e sujeitos a ter de reinventar nossas relações no mundo virtual. Mas nem por isso esses encontros se tornam menos verdadeiros. Ainda temos esse contato olho no olho e nossos olhos sabem rir, sabem falar e se comunicar de uma maneira incrível. 

O bobo da corte

É importante lembrarmos do papel político e social da palhaçaria e da comédia. Não é o simples fato de fazer graça à toa, mas sim uma graça que leva em conta o que estamos atravessando, como estamos atravessando e como podemos atravessar. No budismo, nós dizemos que existem duas margens: a da ignorância e a da plenitude. Às vezes nós temos que nos tornar uma ponte, oferecendo a mão àqueles que também querem chegar ao outro lado. Tem aqueles que atravessam a ponte e agradecem, reconhecem a sua importância. Já outros, que não gostam dela, têm raiva da ponte, xingam ela. Mas o importante é que a ponte nunca deixa de ser ponte, ela sempre estará lá. Isso também faz parte da arte à qual vocês se dedicam, a arte da alegria.

A cura

O Brasil é um país plural e as suas diferenças sociais são muitas. Porém, mesmo aqueles que estão vivendo os aspectos mais cruéis desta realidade, também estão sorrindo. Isso não quer dizer que eles não estejam sofrendo, mas este riso também pode ajudar em processos de cura, não somente a cura das doenças físicas ou psicológicas, mas também a cura desta grande doença que é a desigualdade. 

Nada é fixo, nada é permanente

Estamos na vida sempre tentando encontrar um ponto de equilíbrio, porém não existe nada fixo, nem permanente. Não sabemos como a humanidade vai sair desta crise, mas nunca voltaremos a ser como éramos antes. Há pessoas que talvez saiam mais sensíveis, que estão usando este tempo para refletir mais sobre a sua existência. Assim como também tem aqueles que olharam para a situação de um lugar mais perverso, talvez até tentando encontrar um jeito de lucrar com o desespero alheio, porque são pessoas cujas mentes e os corações não se abriram. Portanto cabe a nós, que temos esta visão de cuidado e  compaixão, encontrarmos maneiras de tocar essas consciências, para que elas também possam despertar. Nós podemos fazer a diferença no nosso dia-a-dia por meio do nosso olhar, da nossa conversa, dos nossos gestos e da maneira como trazemos alegria e a compartilhamos com o todo. 

Rir de si mesmo

Existem situações nas quais nos sentimos donos da razão e também existem momentos que nos tiram desta certeza e nos fazem perceber o quão pequeninos ainda somos diante da complexidade da vida. É nessa hora que me pego rindo de mim mesma, ao perceber o quão tola eu estou sendo. É nessas horas, quando achamos que somos superiores, que a vida vem e nos puxa o tapete, nos trazendo de volta à riqueza de sermos humanos, de ter a possibilidade de sempre estar aprendendo.

Sobre nós

A UNICULTURA nasce em 2008 da inspiração de uma pergunta: Por que mesmo com tantas reflexões filosóficas ainda repetimos as mesmas práticas, geração após geração? E como saímos deste ciclo? “Transpirando” Arte e Cultura. 

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